Igreja e igrejas



por Jefferson Ramalho *

Na presente reflexão não pretendo ser crítico nem agressivo. Quero apenas convidar você a pensar comigo. Pensar a respeito do conceito cristão que envolve o termo “igreja”. Quando este vocábulo foi usado no Novo Testamento jamais existiu a intenção de que ele fosse um termo sagrado em si mesmo. Igreja, vindo do grego, era o mesmo que assembléia. Portanto, outro termo que trouxesse o mesmo significado poderia ter sido usado.

Mas sabemos que no decorrer da História da religião cristã, o termo igreja se tornou sagrado. Mas não apenas no sentido estritamente teológico do termo, como sendo aquilo que diz respeito ao Corpo de Cristo, a reunião invisível de filhos de Deus. Na verdade, com o passar do tempo, “igreja” se tornou o termo mais apropriado para se referir à instituição humana que sempre se identificou como Corpo de Cristo.

Infelizmente existe uma distinção enorme entre a igreja institucional que muitas vezes se resume a uma organização humana, a uma catedral medieval, a uma basílica, a uma firma aberta com CNPJ e Estatuto e a igreja invisível, o Corpo de Cristo, às pessoas que independentemente de onde se reúnem para cultuar a Deus fazem parte da Sua Comunhão.
O problema maior certamente talvez nem esteja em existir esta diferença, mas nas diferenças. A igreja institucional consegue se assemelhar de tal maneira a qualquer outra organização humana, a qualquer empresa, a qualquer coisa do tipo, que sua identidade espiritual acaba ficando em dúvida para aqueles que sabem o que de fato significa ser Igreja, não institucional.

A igreja institucional é a antítese daquilo que o Evangelho apresenta ser Igreja de Cristo, mas que poderia inclusive ter ganhado outro termo qualquer, pois neste caso, o significado essencial não se encontra no termo, mas na ação, na existência, na participação social, na evangelização desinteressada de qualquer outra coisa que não seja a conversão da alma do evangelizado.

Alguns, como o pr. Carlos Bregantim, mentor da estação do caminho de graça, em São Paulo, chamam a Igreja de Cristo de “Igreja Clandestina”. Seria aquela que está absolutamente descompromissada de qualquer possibilidade de status, desinteressada em barganhar com Deus, despreocupada com o crescimento numérico para evidenciar poder institucional. A Igreja de Cristo não quer jamais se tornar igreja. A Igreja de Jesus não precisa se tornar “igreja” para ser reconhecida como Igreja.

Pe. José Comblin disse em sua última vinda a São Paulo: “Chegou um momento em que a Igreja precisa optar entre crescer institucionalmente e simplesmente imitar a Cristo”. O maior problema é que a igreja não consegue existir sem o objetivo de crescer institucionalmente, enquanto a Igreja quer somente uma coisa: imitar a Cristo.

A igreja institucional quer crescer numericamente, enriquecimento financeiro, fama através de gravações e vendas de CD’s e DVD’s de seus grupos musicais, expansão denominacional por meio da fundação de igrejas locais (filiais), construção de mega-templos o que mostra ainda mais a sua mentalidade medieval de altos ideais que se evidencia de diversos modos como por meio da construção de grandes catedrais. Isso é a igreja.E a Igreja? O que é e onde está? A Igreja Corpo de Cristo é visível e invisível, mas está escondida, está verdadeiramente trabalhando pelo Reino incansavelmente e sem nenhum interesse em ser vista pelos homens, pelas câmeras. A Igreja de Cristo é a noiva de Jesus, é aquela que muitas vezes é rejeitada no ambiente da igreja humana, é aquela que não faz questão de acumular bens, riquezas, construir mega-templos, organizar passeatas com interesses políticos, gravar CD’s e DVD’s vislumbrando a fama e conseqüentemente o poder. A Igreja Corpo de Cristo adora Cristo, a igreja institucional diz que adora a Cristo, mas na essência adora o dinheiro, as riquezas, a teologia dogmática que segue por considerá-la teologicamente correta, o poder político, a fama, o crescimento numérico, o reconhecimento humano; ainda que todas essas coisas tenham um rótulo com o nome de Jesus escrito.

É assim que funciona e é assim que continuará sendo por muito tempo, infelizmente.

Minha oração é no sentido de que a Graça, a Misericórdia e o Perdão do Altíssimo atinjam a vida das igrejas assim como todos os dias têm atingido a vida da Igreja.
na Graça,
Jefferson

(texto escrito em novembro de 2007)


Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Com o devido respeito, "data vênia", entendo que o autor do texto, a quem respeito e admiro do fundo do meu coração, deu ênfase somente ao aspecto negativo para o termo "instituição". Certamente, há desvios que devem ser combatidos e evitados, desvios estes que o autor soube colocar muito bem, mas entendo que, nenhum grupo, nenhuma comunidade sobrevive sem se institucionalizar, e que mesmo aqueles grupos que no início crescem sob tal inspiração, ou acabam por se institucionalizar, ou acabam por desaparecer. Institucionalizar-se não precisa ser negativo, pois também é uma demonstração da seriedade que envolve o trabalho (não que antes não houvesse, mas é que acaba sendo o caminho natural, para a própria continuidade da obra). Caso a Igreja não tivesse se institucionalizado, em termos de lideranças, regras, etc, pouco ou nada de cristianismo teria chegado às nossas mãos. Nem mesmo o cânon bíblico teríamos; isto é inegável. Quando se combate erros, corre-se o risco de se cair em extremos opostos (não digo que seja o caso do autor do texto). O nosso desafio está em fazer com a que a instituição seja mais parecida com Cristo, com uma comunidade de irmãos; mas não suprimir a instituição, pois a história já deu mostras suficientes de que tal coisa dificilmente poderá ocorrer. Mesmo quando o cristianismo foi perseguido, clandestino, pode-se dizer que era fortemente organizado, institucionalizado, carecendo somente de reconhecimento jurídico e legal.

    Um grande abraço a meu amigo e mestre Jefferson, a quem, conforem disse, respeito e admiro muito.

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