Honra o médico!

Honra ao médico por seus serviços, pois também ele o Senhor criou.
Pois é do Altíssimo que vem a cura, como presente que se recebe do rei.

A ciência do médico o faz trazer a fronte erguida, ele é admirado pelos grandes.

Da terra, o Senhor criou os remédios, o homem sensato não o despreza.
(Eclesiástico 38,1-4).

A verdade expressa nesse versículo é muito simples: a medicina é um dom! 

Este livro, o “Eclesiástico” faz parte daquele conjunto de escritos conhecidos como “Apócrifos”, pelos evangélicos, e “Deuterocanônicos”, pelos católicos. Pode-se dizer que para os cristãos é antiga a dúvida se tais livros deveriam ou não ser considerados inspirados, sendo que, São Jerônimo opinara que não deveriam ter o mesmo status que os demais livros; opinião esta que parece não ter sido acatada pelo catolicismo romano. Séculos depois, os Reformadores vieram a considerá-los literatura muito edificante, mas não inspirada.

Fato é que, tanto o posicionamento dos católicos, quanto dos antigos reformadores, foi ignorado pelos novos evangélicos. Talvez porque a América Latina ter sido fruto basicamente de missões norte-americanas, as versões evangélicas das Escrituras sequer contém os mencionados livros, sendo negado, portanto, a grande parcela dos cristãos a oportunidade de ler esta literatura que foi chamada por Lutero, Calvino e companhia, de literatura edificante. Ou seja, acabou sendo negado aos evangélicos a oportunidade para que tirassem suas próprias conclusões.

Durante muitos anos isto não fez muita diferença, visto que, protestantes históricos, geralmente mais cultos, supriram a ausência de tais livros com seu próprio bom senso e inteligência, além de, certamente, os terem lido em seus estudos privados.

O problema é que surgiu no meio evangélico alguns grupos pentecostais radicais que passaram a ensinar coisas, no mínimo estarrecedoras acerca de determinados assuntos, e, este é o motivo do versículo citado no início deste artigo.

Alguns começaram a ensinar que não se deveria procurar o médico, pois isto seria falta de fé; e que se deveriam fazer abstenções inclusive a remédios, pois isto demonstraria falta de confiança na capacidade de Deus em curá-las. Obviamente, se o fiel morresse ou padecesse, os propugnadores de tal teologia diziam que, foi o coitado que não teve fé. Pura picaretagem. Se pesquisarmos, veremos que não poucas pessoas perderam suas vidas, confiando nestas falsas promessas. Penso que, certamente, é o desespero e a desinformação que leva muitas pessoas a aceitem este tipo de engodo.

Interessante e trágico é, que há mais de dois mil anos, um sábio judeu disse que o médico era uma benção, que a medicina é dom de Deus, e talvez a mera leitura deste versículo e o seu assentimento teria evitado muitas mortes. Talvez, muitos dos defensores desta teologia teriam ficado constrangidos em criar uma doutrina destas se tal texto estivesse em nossas Bíblias, mesmo com um status inferior aos demais livros.

De minha parte, considero os “apócrifos” e “deuterocanônicos” como leitura bastante edificante, e não preciso considerá-los inspirados para tanto. Outras partes, nem tanto. De qualquer modo, penso que todos deveriam ler tais livros e tirarem suas próprias conclusões.

Pixabay


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