Novas aventuras em uma aula de teologia - o teísmo aberto

Comentei outro dia a observação que um aluno, amigo meu, fez acerca do pronunciamento do Pr. Ricardo Gondim acerca da homoafetividade, na revista Carta Capital.

Depois, em outra oportunidade, na mesma sala, outro aluno fez severas críticas ao que entende, tem sido o posicionamento de tal pastor, no que tange ao que se denomina “teísmo aberto”...

Bom.

Conheci pessoalmente o Pr. Ricardo Gondim.

Fiz parte de sua igreja (minha primeira igreja), Assembléia de Deus Betesda, lá pros anos de 1994, 95, até que outro pastor, após um desentendimento com o anterior, acabou saindo; e um grupo de pessoas, dos quais, eu incluso, resolveu acompanha-lo; não por ter alguma treta com o primeiro (pregador que admiro muito, um dos melhores do Brasil, em minha opinião), mas por amor ao segundo.

Por isso, s.m.j. conheço relativamente um pouco do pensamento do Gondim, pelo menos, naquela época. E acho que algumas de suas posições não são segredos para ninguém.

O Gondim é, ou foi, um arminiano radical, defensor ardoroso da liberdade humana, do livre-arbítrio. Quando comecei fazer um seminário congregacional (Instituto Bíblico do Brasil), acabei tendo contato com idéias calvinistas. Em certa ocasião, num restaurante em Moema, tirando algumas dúvidas com o Pr. Gondim, este foi bastante severo no que tange à crítica ao calvinismo. Chegou a dizer que “o Deus de Calvino não me serve”... Chegou até dar um estudo, em uma EBD, apostilado, e lido, refutando o calvinismo.

Penso que não me engano na exposição destas questões, daí, dizer que o Gondim sempre foi um arminiano, ou wesleyano radical, ou algo próximo disso, não é, s. m. j., desonesto nem ofensivo ao referido pastor. E o dito teísmo aberto, a meu ver, nada mais é que uma radicalização do pensamento arminiano.

Eu, particularmente, nem sei se ele defende tal idéia, a de que Deus, por amor a nós, abre mão de sua soberania a fim de resguardar a questão da liberdade humana, a ponto de não saber o que vai acontecer no nosso futuro. Não tive tempo de ler estas questões, por estar estudando outras coisas. Fico sabendo destas coisas, confesso, de segunda mão.

De qualquer modo, seja este ou não o pensamento do Pr. Ricardo, fato é que, como estudantes de teologia, devemos tentar observar as questões teológicas com “compreensividade” (Maraschin), pelo menos em um primeiro momento.

Quando a idéia de Deus é confrontada com a questão das catástrofes, naturais ou não, é comum as pessoas fazerem seus questionamentos. E muitos não podem viver com a idéia de um Deus soberano, onipotente, onisciente, frente a tantas tragédias, sejam naturais, ou causadas pela ação humana.

O teísmo aberto é uma tentativa de dar uma resposta a estas questões. É uma teologia apologética que tenta ao mesmo tempo dar uma resposta coerente para o mundo, e não descambar de vez para uma teologia mais liberal, secularizada. Ou seja, tenta reinterpretar a soberania de Deus para resguardar a liberdade humana.

Aí, um aluno me perguntou se tal visão não acaba por ignorar muitas partes da Bíblia.

Não sei se chega a ignorar, mas as reinterpreta radicalmente, encarando-as como mitos. Acho que toda teologia sistemática, calvinista, arminiana, católico-romana (dogmática), acaba, pelo menos, adaptando muitas passagens bíblicas ao seu próprio sistema, pois a Bíblia não é teologia sistemática. Os fatos da Bíblia são, em princípio, registros de acontecimentos, ocorrências, experiências e visão de mundo antiga; embora, para nós, seja também a revelação de Deus. Os sistemas vieram depois.

Utilizo este fato ocorrido em sala de aula, não para falar de teísmo aberto, fechado, teologia do processo, ou coisas do tipo, mas sim chamando atenção para a necessidade de, pelo menos, duas posturas diante de assuntos teológicos: primeiramente, praticar a escuta atenta. Procurar, antes de atacar, entender o ponto de vista alheio, o que quer dizer, o que quer defender. Dialogar, enfim. Em segundo lugar, não começar a atacar a pessoa que defende esta ou aquela idéia, mas discutir a idéia em si. Homens bons podem, em determinados momentos, defender posicionamentos equivocados, e vice-versa.

Mas e aí? A sociedade continua perguntando: porque coisas ruins acontecem com pessoas boas? Há intervenção sobrenatural de Deus no mundo, ou ele governa somente com base em leis pré-fixadas? A religião pode e deve ser vista somente em seu aspecto ético e moral, reduzida a um sentimento de dependência do absoluto (Schleiermacher)? A tarefa da teologia é eminentemente apologética; nasce da apologia (Tillich), no sentido de procurar dar respostas às perguntas que a sociedade nos faz. Estamos nós preparados a dar tais respostas?

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