A mente de Cristo X calvinismo - O calvinismo faz do Deus Santo autor do pecado

Por Domingos Pardal Braz

Eis-nos diante de um dos aspectos mais soturnos da teologia calvinista.

Partamos do principio de que Deus sendo livre não precisava ter concebido este universo.

Queremos dizer com isto que a existência deste universo não é necessária.

Como seres contingentes poderiamos pura e simplismente não ter obtido a existência.

Neste caso nem a natureza nem a o cárater de Deus seriam afetados.

Ele continuaria sendo o que sempre foi: o unico ser suficiente e necessário.

Entretanto existimos.

E se existimos existimos por um ato livre de Deus o qual desejou e quiz que viessemos a existência.

Nada precisaria ser como é.

Tudo poderia ter sido totalmente diferente.

Entretanto as coisas são como são porque um poder Superior dispoz que fossem assim.

Porque considerou que este estado de ser é superior a todos os outros.

Pois sendo Deus um ente perfeito não poderia ter produzido uma obra oposta a sua natureza ou absolutamente imperfeita.

Quando dizemos que algo é absolutamente imperfeito, queremos dizer com isto que não é capaz de atingir o máximo de perfeição possivel em termos imaginaveis.

Quando dizemos que o mundo em que habitamos é relavitamente imperfeito queremos dizer que mesmo não estando em plena posse da perfeição a que foi disposto, encaminha-se infalivelmente para ela.

Atingirá pois o máximo de perfeição possivel em termos imaginaveis porque seu autor é sumamente perfeito e capaz de aperfeiçoa-lo até o extremo de suas potencialidades.

Sendo Deus um Ser naturalmente beato ou feliz pela posse e contemplação de si mesmo, somos levados a crer que o objetivo da criação só pode ser a felicidade máxima dos seres criados pela união com o Ser divino.

Nada é mais nobre do que trabalhar pela felicidade alheia.

Exige pois a nobreza do cárater divino que tenha produzido livremente as criaturas para partilhar com elas a sua beatitude.

Todos os seres contingentes foram concebidos em termos de comunhão com Uno ou seja de divinização.

Nisto consiste de fato a glória de Deus: não em se ver cercado por servidores dos quais não necessita ou lisonjeado por criaturas finitas.

Não foi para receber afeto, carinho, homenagens e louvores que Deus produziu os seres humanos, do contrário não passaria dum Ser carente, inseguro e problemático.

É blasfemo imaginar que Deus produziu seres para auto afirma-se ou seja para ser bajulado.

Efetivamente os seres encontram seu sentido, sua realização e sua felicidade em servir livremente ao Criador. O Criador no entanto só fica feliz na medida em que percebe que os seres por ele concebidos atingiram seu fim que é a aquisição da felicidade.

A bemaventurança dos servos e do Senhor é a mesma.

Pois foi da natureza mesma do Senhor que partiu a iniciativa de que os seres fossem concebidos e associados a si na fruição eterna da beatitude.

Seria dificil imaginar feliz um Deus cuja maior parte das criaturas fosse destinada a separação e ao infelicidade eternas.

A teologia calvinista no entanto sustenta oficial e publicamente a quantidade exigua de salvos em comparação com o imenso número de réprobos, segundo podemos ler, por exemplo, na confissão Helvética sessão X:


"E, embora Deus conheça os que são seus, e nalgum lugar se faça menção do reduzido número dos eleitos..."

Creem pois os calvinistas que Deus optou livremente por produzir um universo no qual a imensa maioria dos seres viria a perder-se.

Segundo a opinião deles Deus julgou que era digno e bom o triunfo do mal e do pecado neste mundo e oposição do bem e da santidade.

Isto é absolutamente exato pois antes que o pecado aflorasce e dominasse a maioria dos seres ocasionando sua infelicidade e perdição Deus já tinha plena ciência disto.

Se Deus sabia que o homem pecaria, que o pecado dominaria a maior parte dos homens e que a maior parte dos homens seria eternamente punida por ele, poderia caso tal ordem lho desagradasse não ter criado este mundo, entretanto achou por bem cria-loe o fez porque tal ordem sujeita ao pecado lho agradou.

É inutil argumentar que o primeiro homem era livre e que poderia não ter pecado.

Pois Deus em sua preciência sabia muito bem que ele pecaria e quais seriam as consequências deste ato tendo em vista a maior parte de suas criaturas.

Portanto o efeito do pecado, que foi a separação, a infelididade e a punição eterna da maior parte dos seres humanos foi querida e desejada por Deus.

Triunfaram o mal e o pecado na maioria dos seres humanos com pleno conhecimento e anuência de Deus e não a sua revelia.

Sendo Deus Onipotente, como gostam de frisar os calvinistas estava em seu poder produzir um mundo totalmente diferente no qual o pecado não viesse a triunfar para sempre e a grande maioria dos seres humanos não se perde-se.

Portanto se não o fez foi porque não o quis.

Sendo Onipotente o deus calvinista e podendo evitar o que para nós homens parece absolutamente fatal, não parece ser nobre e bom, pois não quiz evita-lo estabelecendo pelo contrário uma econômia disposta ao triunfo do pecado.

São pois coerentes aqueles calvinistas que alegam ter desejado Deus a salvação de alguns e a perdição de muitos desde toda eternidade.

No entanto se tal perdição significa infelicidade devemos compreender que o deus calvinistas optou livremente desde toda a eternidade por produzir uma multidão de seres destinados a infelicidade. Quis pois fazer e fez seres infelizes.

Aqui cabe uma pergunta?

Pode alguém ser bom na medida em que deseja a infelicidade alheia?

Neste caso como Deus poderia ser bom se desejou produzir a maioria dos seres para a infelicidade e o sofrimento?

É excusado dizer que tal situação de sofrimento é justa... pois mesmo sendo justa poderia ter sido evitada, pois não corresponde a perfeição da bondade.

No entanto esta longe de ser justa pois toda a ordem calvinista supõe que cada ser humano tenha tomado sua decisão quando na verdade serão castigados em sua maioria pela opção de um outro (Adão). Nasceram pois isentos de liberdade e predestinados ao sofrimento eterno graças a vontade de um só... pagarão pois por uma econômia iniqua que não estabeleceram e que não sequer foi estabelecida por adão, mas concebida por Deus...

Foi Deus mesmo que quis que a humanidade como um todo fosse privada da faculdade des escolher e mesmo assim punida em sua maior parte. Punida sem culpa na medida em que peca por necessidade não lhe sendo possivel deixar de pecar.

Foi deus mesmo - e não Adão ou os mortais - que desejou tornar feliz a minoria e infeliz a imensa maioria e importa dizer que o mesmo deus misericordioso que resgatou alguns é o mesmo deus não misericordioso que rejeitou muitos...

É pois um deus de dupla face: face afavel para meia duzia de privilegiados que resolveu restaurar e face dura, vingativa e rancorosa para com uma multidão de filhos ou seres que ele mesmo abandonou e relegou ao pecado.

No fim das contas tais pessoas não vivem pecando porque Adão pecou, mas pura e simplismente porque o deus todo-poderoso não lhas resgatou como as outras. Caso lhas tivesse resgatado com os eleitos o pecado não teria triunfado nelas, entretanto o mal e o pecado nelas triunfou com pleno consentimento de deus.

Não foram tais pessoas que lhe deram as costas ou abandonaram, antes foi ele que lhas abandonou as guarras do pecado. Não lhas libertando como os eleitos, Deus lhas faz escravas e por assim dizer coopera ativamente com o pecado.

Toda ordem luterana e calvinista é uma ordem paradoxal pois na mesma medida em que insiste na Onipotência divina, concede amplo espaço ao Demônio, ao mal e ao pecado mesmo na vida dos eleitos (que dirá nas vidas dos deseleitos!!!).

Numa econômia isenta de livre vontade seria de se esperar que a onipotência de um Deus bondoso, aniquila-se o pecado ou reduzi-se drasticamente seu espaço. Entretanto tal não se dá, justamente porque a idéia que fazem de Deus não é a de um Ser eminentemente Santo e bom, mas a de um tirâno implacavel...

É preceito seguro no terrenoda moral que "Quem podendo fazer o bem não o faz não é bom e não sendo bom é mau."

Ora o deus calvinista sendo já livre em suas ações, já Onipotente poderia: ou não ter feito este mundo cuja maioria dos habitantes esta destinada a infelicidade eterna ou ter feito um mundo totalmente diferente no qual o pecado não se manifesta-se ou não pudesse triunfar.

Poderia ter feito um mundo povoado de seres dispostos para a beatitude ou não ter feito mundo algum.

Poderia ter feito um mundo melhor e mais perfeito, sem fatalidade, sem réprobos, sem fogo e enxofre...

Poderia ter feito um mundo mais humano, pois quem de nós - homens imperfeitos - suportaria ver seus queridos ou mesmo seus inimigos ardendo num foguareiro eterno e gritando a plenos pulmões?

Poderia ao menos ter concebido o mundo nos termos do arminianismo...

Entretanto - segundo os Turretinis e Boettners - ele não fez nem quis fazer nada disto...

Não quiz pois fazer o bem, porque não é bom e se não é bom é mau.

Não quis exercer misericordia, porque não é misericordioso e se não é misericordioso é inflexivel.

Não quiz destruir o pecado, porque ama ao pecado e sendo assim não é santo.

Mesmo a idéia de um mundo no qual a imensa maioria dos seres viesse a extraviar-se livremente seria dificil de se aceitar e por uma razão bem simples:

Um mundo no qual Deus não lograsse atrair e submeter livremente a maioria dos seres não seria necessário.

Sendo Deus um Ser eminentemente livre e bom porque cargas d'água viria a consentir no surgimento de um mundo no qual a imensa maioria dos seres se dispuzessem a infelicidade?

A postura dos calvinistas entretanto é muito mais grave do que a postura dos arminianos pessimistas, pois supõe que deus mesmo e não cada um dos seres seja a causa de sua própria reprovação.

Significando esta reprovação um estado de infelicidade e de sofrimento destinado a prolongar-se para todo o sempre, devemos concluir que deus se sinta feliz na medida em que contempla tais situações de infelicidade e sofrimento...

Neste caso como poderia ser bom e misericordioso um ser que ao invés de desejar a felicidade e o bem estar de todos deseja antes sua infelicidade e sofrimento?

Que bondade, que misericordia, que tolerância, que compreenção já em rejeitar a maior parte dos seres humanos desde toda a eternidade?

Que justiça há em fazer com que muitos paguem pela decisão ou a opção de um só?

Que perfeição e sabedoria há em admitir-se que toda esta econômia foi planejada livremente pela divindade?

Ao postularmos deus como autor duma ordem onde o pecado se perpetua pela determinação inexoravel das ações humanas, postulamos que deus não se opõe como deveria ao pecado.

Ao postularmos que deus podendo quebrar tal ordem e impor com sua onipontência - pois de um modo ou outro o livre arbitro não é considerado - a ordem da graça e da salvação não o faz, postulamos um deus que não é bom.

Só nos resta concluir que um deus nestes termos: iniquo e mau, não é um deus necessário.

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