Do sangue derramado pelos revoluções francesa e Russa...

A revolução francesa efetivamente fez correr rios ou mananciais de sangue.

Possivelmente mais do que as inquisições romana e protestante juntas.

Insisto porém no fato de que os Cristãos - como os McIntires da vida - que derramaram ou apoiaram o derramamento de sangue, violando o mandamento dado por seu Senhor, não teem moral alguma para tecer críticas, aos islâmicos ou comunistas porque estes não receberam do Senhor mandamento algum sobre a não violência.

Os mandamentos de paz e misericórdia foram dados a igreja e aos que estão dentro e não aos infiéis e incrédulos.

Estes - como afirma são Paulo - não serão julgados pela lei positiva ou revelada, mas pela lei inata da consciência e a lei inata não comporta o mandamento da não resistência.

Não me sentiria nem um pouco chocado caso um Tolstoi ou um Gandhi denunciasse as violências praticadas pela Revolução russa, reproduzindo o mesmo discurso aplicado a revolução francesa pelos nobres do décimo nono século.... entretanto tais filipicas jamais partiram dos pacifistas - não me ocorre que os Sturge, os Ballou, os Tolstoi, os Gandhi, ou as Weill... tenham direcionado suas críticas a revolução russa ou ao comunismo - mas dos Cristãos matadores, assassinos, carniceiros e derramadores de sangue como os McIntires e os J Mccarties...

Foram os Cristãos belicosos que denunciaram a belicosidade comunista. Cumpre esclarecer no entanto que a belicosidade dos comunistas - Berdiaeff e Maritain lho reconhecem - teve por fim - ao menos em tése - resgatar a dignidade daquele proletariado que o falso Cristianismo abandonou a sua própria sorte ou auxilio a agrilhoar, enquanto que a belicosidade Cristã sempre teve por fim a exaltação duma ortodoxia morta ou a manutenção do culto dedicado a Mamom e condenado pelo Senhor Jesus Cristo.

Toda esta dinâmica: nós Cristãos podemos torturar e matar muçulmanos ou comunistas, enquanto eles devem se deixar abater em nome daquela paz enunciada no Evangelho é farisaica senão cômica... pois quem deveria viver essa paz ao invés de discursar sobre a ferocidade de todos os outros, é justamente o Cristão...

Ser qualquer outra coisa e belicoso não é uma escadalosa contradição, entretanto ser Cristão e belicoso é uma escadalosa contradição...

Foi devido a esta postura que para todos os outros homens - islamicos, liberais, comunistas, ateus, etc - o termo cristão passou a ser encarado como sinônimo de hipócrita... pois deseja impor aos outros uma ordem que ele mesmo não cumpre e não respeita...

Alias, os mesmos Cristãos que se chocam diante dos pavorosos massacres perpetrados pelas revoluções francesa e Russa, são os mais destacados defensores da bela doutrina da pena capital... Que seriedade ou boa fé há em tudo isto???

Os mesmos Cristãos que se chocam quando alguém ousa defender o aborto - eu sou contra porque sou a favor do estado popular - não se chocam de que as mesmas crianças começem a trabalhar com sete ou oito anos de idade - até escrevem > não me comovo diante das fotos dessas criancinhas - ou que vivam ao relento pedindo esmolas junto aos faróis para cheirar cola...

Não entendo porque precisamos por crianças neste mundo para que sejam excluidas, para que tornem marginais, para que sejam escravaz, para que passem fome e frio, para que sofram, etc Que lógica há em tudo isto???

Entretanto a postura do Cristão é quase sempre esta: Aborto não... Lindo. E as criancinhas que são postas neste mundo? Com isto ninguém se importa.

Tudo bem desde que vivam...

Entretanto uma vida vivida sem diginidade não se coaduna nem um pouquinho com os nobres ideais do Cristianismo.

No entanto há diversas maneiras de se matar um ser humano.

Poucas pessoas ousam pensar nisto, pois é um pensamento subversivo... não me importo.

Penso, logo existo.

Se não penso, vegeto... se é que vegeto...

Tanto posso matar alguém provocando uma efusão de sangue e chocando profundamente as testemunhas deste ato barbaro e vil como posso matar aos poucos ou indiretamente se chocar a quem quer que seja...

Eis o problema.

Jesus nos ensinou a valorizar a vida acima de tudo. Deverimos pois ter edificado um Estado voltado para a vida e para sua dignidade, mas não foi o que fizemos...

Guiados pelo tio Calvino e pelo tio Adam edificamos um estado voltado para o lucro, o capital, o econômico, enfim para o mercado, cujas leis são sagradas...

Foi assim que engendramos uma cultura que mereceu ser qualificada - até o papa de roma sabe disto - como cultura de morte.

Pois na medida em que sobrepuzemos as leis de mercado aos principios morais e valores éticos enunciados já por Jesus e seus apóstolos, já pelos filosofos greco-romanos, legalizamos por assim dizer ou institucionalizamos uma série se situações favoraveis a morte a ao sofrimento humano, dentre as quais por exemplo o aborto e a pena capital...

Desde então milhões, de milhões, de milhões; no decorrer de quatro séculos teem sido sutilmente imolados ao deus milhão, seja pela fome, seja pela doença, seja pela guerra...

Vou dar um simples exemplo.

Há alguns dias tivemos ocasião de ler que no Norte da Europa, os pecuaristas produtores de leite, lançaram num rio milhares de litros de leite com o objetivo de aumentar o preço do restante pela redução da oferta... e assim fazem com a laranja, o feijão, o milho, a batata, etc enquanto milhões de seres humanos morrem de fome por este mundo afora, especialmente na África e na Ásia, mas também no nordeste brasileiro...

E nenhum desses respeitaveis empreendedores sequer cogita em doar tais produtos aos milhões de seres humanos que passam fome... tampouco nossas leis classificam tais ações como criminosas. Entretanto é o que elas são pois na medida em que destruimos bens que são imperativamente necessários a manutenção de vidas humanas, destruimos tais vidas e cometemos assassinato ou melhor assassinatos.

Assim a ordem econômica vigente, dando vezo a destruição sistemática de alimentos, implica anualmente em milhões de assassinatos, mas ninguém se escandaliza com isto pelo simples fato de não have derramento se sangue...

O pior de tudo é que tais espetáculos não ocorrem dentro da cultura muçulmana ou da cultura budista e nem mesmo na malfadada Cuba, mas dentro de culturas Cristãs... E Jesus disse: Tive fome e me não me destes de comer???

De que nos adianta pois ter conhecimento de Cristo para desobedece-lo ou saber o evangelho para não cumpri-lo?

"Ai de vós fariseus hipocritas que percorreis o mundo inteiro com o intuito de fazer um só prosélito e depois disso o tornais filho da geena duas vezes mais que vós."


Quando milhões de milhões de dolares são investidos em armamentos e munições sem que todo um povo não possua um sistema de saúde público e unificado, temos uma série interminavel de mortes por falta de atendimento...

Quando outros tantos milhões são desviados por políticos desalmados ou injetados em bancos e empresas ao invés de serem repassados a educação, a cultura, ao desporto e a saúde temos outros tantos milhões de mortos...

Sobretudo quando jovens - em sua maioria pobres, latinos ou negros - são recrutados e enviados a campos de batalha no Vietnam, no Panamá, na Sérvia, no Afeganistão ou no Iraque, temos mais milhares de mortes... entretanto como elas ocorrem muito longe de nós não nos damos ao trabalho ocioso de contabiliza-las e nos esquecemos muito facilmente delas.

E tudo isto tem acontecido num momento histórico posterior as revoluções russa e francesa!!!

Agora imaginemos aqueles três séculos que antecederam a gloriosa revolução de 1789...

Séculos em que os reis eram senhores absolutos dos povos... época em que os padres e pastores lambiam as botas dos reis... época em que as nobrezas parasitárias viviam de privilégios e época em que a burguesia já campeava triunfante pelos quatro pontos cardeais... nestes séculos que era feito do povo?

Digo do camponês, do operário ou do soldado?

Uma mortandade constante, um sangradouro interminavel, um rebanho inumeravel de cabeças humanas conduzidas ao mangueiro...

Uns morriam de fome por não poderem pagar os impostos... outros eram encinerados pelas inquisições... outros massacrados pelos nobres e outros explorados pela burguesia em termos semelhantes aos modernos... quem escapava a sanha do rei, não escapava a do pastor ou a do margrave, vindo em todo caso a perecer nas mãos de um patrão avarento...

Guerras, fome e pestes, além de grilhões e baionetas eram os mimos com que os reis, os nobres e o clero nimbavam aos produtores cujos nomes a história burguesa, dos vitoriosos, não guardou...

Anualmente eram milhares os que tal sistema esmagava impiedosamente, no decorrer de um século milhões de milhões, no decorrer de três ou quatro séculos milhões, de milhões de milhões... e ninguém se importava ou se importa com eles porque eram produtores, humildes, excluidos, miseráveis... e sobretudo porque ou o sangue deles não era derramado ou era sutilmente derramado.

Foram as revoluções francesa e russa que fizeram diminuir consideravelmente este fluxo de sangue inocente que a prepotência dos reis, dos clérigos, dos nobres e dos patrões sempre vertera impunemente... pois até então tal sangue procedia debaixo, da gente sem nome, nem honra, nem bens...

E para que tal sangria diminuisse era forçoso um choque...

A Revolução francesa causou este choque na medida em que o sr Robespierre fez o sangue correr em sentido inverso, ou seja, de cima para baixo...

Pela primeira vez na História da humanidade os reis, rainhas, principes de sangue, bispos, nobres, parlamentares e milionarios subiram a cadafalso e tiveram suas orgulhosas cabeças ceifadas como feno...

Niguém odeia um Hidelbrando, um Lutero, um Luis XIV, um farqhar, um Cecil... porque o sangue que fizeram sutilmente verter procedeu das camadas populares...

Robespierre no entanto é um personagem odiado, como Marx e Lenin são odiados, e o periodo sob o qual exerceu o controle recebeu o significativo apelido de Terror...

Sim terror mas terror para quem?

Terror para os reis, nobres e burgueses que até então haviam aterrorizado a vida do povo por mais de quatrocentos anos com seus impostos, dizimas, corvéias, guerras, execuções sumárias e salarios de fome...

Entretanto ninguém se lembra deste terror continuo que se prolongou por quatro séculos pelo simples fato de que não havia palco, guilhotina, cesta, etc

Todavia a morte dos criminosos e terroristas deveria ser espetaculosa para que a humanidade não mais se esquecesse dela. Deveria ficar gravada indelevelmente nos anaes da História e servir de advertência aos tirânos...

Posteriormente a nobreza tomou a peito elaborar alguns martiriologios ou folhetins de quinta categoria exaltando a coragem de seus representantes e denunciando o furor vesano do incorruptivel tribuno.

O sangradouro diminuiu em certa medida, mas não de todo e em diversas partes da Europa os homens continuaram a ser imolados perante os altares do deus milhão até que uma nova revolução estourou, desta vez na Rússia... e mais uma vez a burguesia subiu ao cadafalso... e mais uma vez os hipocritas denunciaram a fúria dos revolucionários...

E todas as assombrosas calunias de que a revolução francesa fora objeto, foram reeditadas sem um pingo de pejo...

Cumpre esclarecer ainda que boa parte daqueles que pereceram nas mãos dos revolucionarios franceses e russos não eram civis ou sequer autotocnes dos paises convulsionados pelas respectivas revoluções - França e Russia - mas invasores estrangeiros que se uniram e atacaram os revolucionarios com o intuito de manter a situação...

Pois tanto a França quanto a Rússia pos revolucionarias foram atacadas e invadidas por incontaveis hostes de reacionários (nobres ou liberais) procedentes dos paises vizinhos.

A França foi invadida por ingleses, alemães, holandeses, espanhóis e austriacos coligados, os quais, como era de se esperar foram batidos em todas as frentes e levados a guilhotina como inimigos já da patria e já da revolução...

A Rùssia também foi invadida por ingleses, estado unidenses e alemães coligados, os quais, foram igualmente batidos pelo exercito do povo e exterminados como inimigos da Rússia e da revolução...

Com que audácia tais contingentes que invadiram os dois paises com o objetivo de derrotar e exterminar os revolucionários são pranteados pelos reacionarios de ontem e de hoje e comparados aos martires do Cristianismo.

É facil compreender o porque de tais coligações reacionárias.

Pois caso tais revoluções desses certo como em parte deram tanto na França quanto na Rússia, ambos os países converter-se-iam em centros ou pólos revolucionários donde as idéias revolucionarias e vitoriosas passariam aos paises vizinhos e atingiriam todas as nações da terra, uma após a outra, convulcionando-as...

Efetivamente, duzentos anos após a revolução franceza, quase todas as monarquias cairam ou aderiram a forma constitucional já não havendo sinal de regimes absolutistas... o mesmo já esta ocorrendo e ocorrerá necessariamente com as democracias puramente formais ou representativas as quais no decorrer dos séculos subsequentes converter-se-ão em democracias diretas ou republicas populares inaugurando uma ordem mais ou menos socialista.

Foi por isto que primeiramente os feudais e depois os liberais se associaram e conjugaram com o sinistro objetivo de afogar em sangue ambas as revoluções, no entanto suas forças muito superiores e melhor armadas que as forças revolucionárias foram sucessivamente batidas e por uma razão bastante simples: as revoluções francesa e russa foram as primeiras lutas nas quais o povo tomou parte ativa podendo perceber com maior ou menor nitidez o significado do seu papel enquanto agente e construtor do processo histórico.

Foi esta sensação de estar, pela primeira vez, combatendo por seus próprios intereses e não por intereses alheios que eletrizou, os franceses e os russos daquelas gerações...

Não há duvida de que muito, mas muito sangue foi derramado por ambas as revoluções francesas e russa.

No entanto sangue algum teria sido derramado caso os problemas que tais revoluções pretenderam solucionar não tivessem vindo a tona e vindo a toda justamente porque o Cristianismo nada fez permitindo que debaixo de suas barbas fosse engendrada uma ordem visceralmente anti-cristã.

Caso o Cristianismo impondo uma ordem Cristã tivesse obstado ao surgimento de uma ordem já absolutista/feudal, já capitalista, embasadas tanto uma quanto outra sobre principios e valores anti-cristãos, tais revoluções teriam sido desnecessarias e jamais teriam ocorrido.

No entanto tiveram de ocorrer justamente porque o Cristianismo não cumpriu com seu papel dando origem a uma sociedade Cristã.

O valor de ambas as revoluções é justamente este: que ambas pretenderam superar situações que nada tinham de Cristãs ou melhor, que na verdade eram e são profundamente anti-cristãs.

Em termos de sangue ou de mortes violentas não sei se a palma cabe as inquisições cristãs ou as supraditas revoluções. No entanto se o que temos de contabilizar são mortes é absolutamente certo que ambas as revoluções não chegaram a imolar nem um porcento do numerário de vítimas imolado pela sifilização Cristã sob as mais diversas formas de opressão...

No fim das contas creio que ambas as duas acabaram por fazer com que o saldo de vítimas imoladas pelo poder do dinheiro e do tacão de ferro até diminuisse e diminuisse consideravelmente, em que pese o grande numero de atentados contra a vida humana perpetrados pelo sistema em nossa época.

Comentários

  1. No meu sentir, toda a vida de Tolstoi, Gandhi, e outro pacifistas, foram um protesto vivo contra qualquer tipo de violência revolucionária; tanto é que Tolstoi foi detestado pela esquerda revolucionária de sua época, como seus próprios escritos demonstram. E os que propuseram a revolução francesa e russa, seus idealizadores, emergiram de uma sociedade com alguma cultura cristã; ou seja, rejeitaram Cristo e o cristianismo para fazerem o que fizeram, daí, não serem inocentes também. Agora, certamente, que os que se dizem seguidores de Cristo e utilizaram de formas odiosas de violência em nome da religião, pecaram também. Jesus disse àquele governante: "àquele que me entregou a ti, maior pecado tem"; entretanto, isto não quer dizer que Pilatos também não tinha pecado.

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