Contraponto II

Como registrei já diversas vezes não tenho absolutamente nada contra as humildes senhorinhas analfabetas que abraçam ao pentecostalismo e que, não tenho duvida, dentro de seus esquemas mentais limitados procuram servir a Deus da melhor maneira possivel, notabilizando-se por uma vida honesta e decente.

Jamais culpei as pessoas por serem pentecostais e não creio que seriam capazes de serem outra coisa, mas de minha parte prefiriria que tais pessoas não tivessem religião alguma (estendo as mesmas criticas ao catolicismo popular e a ortodoxia folclorica). Jamais encarei com bons olhos a associação> miséria, ignorância e religião pois conheço muito bem os efeitos de tal associação no Oriente...

Nem por isso negarei que em alguns casos ao menos, a adoção do pentecostalismo por tais pessoas tem redundado numa mudança positiva de carater. Mas como o amigo bem sabe não creio que uma simples mudança com relação a conduta pessoal seja a meta do Cristianismo se ela não altera por completo nossas relações inter pessoais numa perpestiva de alteridade.

Compreendo o Cristianismo como um fazer o bem ativamente tendo em vista o outro.

No fim das contas minha visão sobre os motivos do pentecostalismo não poderia ser outra que a do Pe Comblin.

Sempre tive para comigo que sua disseminação se dá por via da exclusão, da marginalização, da exploração, da miséria e da ignorância. Desde cedo encarei o pentecostalismo ou ao menos sua expansão como fruto do sistema econômico vigente e como a melhor maneira de se combater um efeito é pelo combate das causas consagrei minha vida a destruição do capitalismo aproximando-se mais e mais da teologia da libertação.

Num determinado momento de minha carreira como apologista fui levado a perceber como os ortodoxos e tradicionalistas são imbecis por combater diretamente ao pentecostalismo desvinculando-o por completo das condições econômicas... foi precisamente por isto que mudei o foco de minha ação, antes voltada para a polêmica religiosa, para a polêmica social, política e econômica.

Creio ademais que os esforços dos segmentos tradicionais das igrejas ortodoxa e romana frente ao avanço do pentecostalismo estão fadados a mais vergonhosa derrota. Isto na medida em que os mesmíssimos setores são coniventes ou até mesmo favoraveis ao capitalismo.

Minha analise culturalista calcada na de Weber teima em não distinguir capitalismo de protestantismo e a encara-los quase como um inimigo comum se bem que a meu ver o capitalismo tenha precedência devendo ser combatido como a causa predisponente.

Creio piamente que na medida em que a condição de vida das pessoas for melhorada e eles tiverem acesso a uma educação de qualidade tal fenômeno religioso perderá sua intencidade e poder de atração. Por isso tenho dedicado parte de meus esforços a causa da militância politica e da educação.

Entretanto não percebo, no contexto a que estou vinculado, que tal fenômeno tenha colaborado em larga escala tendo em vista a compreenção real e a superação de tais problemas sociais.

Segundo ouvi da boca de um amigo meu - de familia chilena - pastor e filho de um dos fundadores da Igreja Evangelica de Deus pentecostal, situada aqui em São Vicente - fui aluno observador de seu curso de teologia - Pinochet apoiou-se em parte no pentecostalismo, fazendo dele um reduto contra a teologia da libertação promovida pela ICAR.

Aqui mesmo na internet tive ocasião de ler algumas apostilas de cursos de teologia promovido por organizações pentecostais nas quais o Marxismo era apresentado como sendo uma seita e Marx como satanista, discurso que eu mesmo já ouvi nas bocas de outros pentecostais desta região em que vivo. Geralmente ignoram Marx, mas quando lho conhecem, o conhecimento é quase sempre negativo...

Aqui em minha cidade votam quase todos como rebanho no candidato indicado pelos pastores, geralmente pastor ele também e pertencente a partidos reacionários como PSDB e DEM. Os protestantes de esquerda que conheco em minha região são geralmente adventistas ou luteranos.

A CCB por exemplo tinha por costume, fomentar o extremo oposto, o abstencionismo, do mesmo modo que as Tjs se bem que estas não sejam pentecostais.

Longe de mim responsabilizar tais pessoas por uma situação com relação a qual não possuem responsabilidade ou culpa alguma... No que diz respeito as lideranças e pastores reitero críticas pois são os verdadeiros responsaveis por manter essas pessoas no estado em que se encontram e por tirarem vantagem econômica disto, com isto não concordo em hipotese alguma, mas lho discutiremos quando tratarmos da Teologia da prosperidade.

Afirmou o bom amigo que a Assembléia de Deus não compactua com a TP, qual seria típica da IURD e talvez da Deus é Amor (não sei se compreendi corretamente sua afirmação) registro no entanto os seguintes fatos.

Quando eu era menino e rapazinho e iamos em comissão de vizinta a ADD de São Vicente, sito a Campos Sales, centro, aqui próximo de casa, notavamos meio que descontentes o quanto durante o culto o pastor insistia demoradamente sobre, dizimos, ofertas e contribuições.

Depois quando já havia abandonado a CCB, creio que bem depois, em meados da década de noventa, este templo da rua Campos Sales foi assaltado e um dos pastores - a cujos cultos haviamos ido - acabou morrendo abraçado a um saco de dinheiro por recusar-se a entrega-lo ao bandido e afirmando que deus operaria um milagre para salva-lo (depois toda igreja orou por ele e o milagre não aconteceu), foi um grande escândalo na minha cidade e tudo isto esta perfeitamente registrado e documentado.

Ademais li aqui mesmo neste Blog o artigo escrito por veneravel ministro metodista no qual reza que Malafaia - VICE PRESIDENTE DA CGADB > congregação geral das Assembléias de deus do Brasil - (como já fora dito pelo insigne Caio Fábio) estaria traficando ou vendendo unções financeira o que é pratica da TP, igualzinha as da IURD, tanto que Malafaia assumiu ardorosamente a defesa de seu colega Edir Macedo quando este foi levado ao ergastulo donde não teria saido até hoje caso este pais fosse um pais sério.

Sei que pessoas de bem - não sei se de fato é a maioria e não creio que seja - tanto na Ass de deus quanto em outras organizações pentecostais se opoem decididamente a pratica da Teologia da prosperidade, eu mesmo tenho em minha pg de videos do Orkut um excelente depoimento contra ela da parte de um teologo assembleiano, no entando compreendo a dinâmica da TP no pentecostalismo da mesma forma como compreendo a dinâmica do pentecostalismo no protestantismo e a dinâmica do protestantismo nos Cristianismos apostolicos, creio piamente que no fim de tudo - caso não haja resistência firme - o termo de tudo será a teologia da prosperidade.

Desde Trento que o gracismo/augustinianismo firmou-se na ICAR e vem cada vez mais penetrando a IO - eu faço parte da resistência semi-pelagiana (espécie de tropa de choque como gosto de definir) - por outro lado desde 1900... que o pentecostalismo vem absorvendo o protestantismo e ampliando seu campo (desde 196... implantou-se também no papísmo sob a forma da RCC) enfim desde meados dos anos 70 assistimos a uma franca expansão da TP dentro dos quadros do pentecostalismo brasileiro, e não um recuo, em que pesem as criticas que chovem de todas as partes.

Alias donde partem tais criticas senão dos pastores mais ilustrados e honestos?

Diante disso como o povo pentecostal sem sua grande maioria infenso a cultura mais elaborada poderia assimilar ao discurso desses pastores e resistir a TP?

Com que aparelhamento as senhoras analfabetas e iletradas - presas aos pés do fogão por nossa cultura maxista - podem e poderão resistir aos mirabolantes apelos da TP, todos aparentemente firmados na Bíblia de que se servem?

É verdade que um número cada vez maior de jovens protestantes e pentecostais teem se oposto a TP e a suas falsas promessas, eu o sei pois sou professor. Por outro lado não é menos verdade que um numero cada vez maior de avós, mães, tias ou até mesmo parentes mais velhos e menos estudados do sexo masculino teem buscado soluções para seus problemas nos dominios da TP da mesma forma como há quarenta anos atrás iam aos terreiros de Candomblé (nos quais ao menos o nome do Senhor não é exposto a blasfêmia).

Como resultado desse crescimento do neopentecostalismo entre as pessoas mais velhas e menos instruidas tenho observado a guiza de reação uma revolta cada vez mais consciente da parte dos incrédulos e irreligiosos, os quais costumam afirmar suas posições ora referindo-se aos padres pedofilos, ora aos pastores cobradores de dizimos, criticas que em nossas escolas já se transformaram em locais comuns e motivos de piada.

Evidentemente que a igreja romana também tem uma grande parcela de culpa com relação a tais transtornos na medida em que ensinou tais pessoas a buscarem milagres oferecendo-lhes a titulo de instrução suas abominaveis vidas de santos repletas de sobrenaturalidade vulgar.

A teologia da prosperidade - a IURD por sinal - cresce e isto é um fato. Ela avança e seu avanço se dá sobretudo nos meios pentecostais, penetrando já alguns setores da igreja batista inclusive e dando muitas dores de cabeças aos pastores mais honestos mesmo pentecostais. Dir-se-ia que as teorias do sr Hagin alastram-se sutilmente por um corpo pentecostal que procura defender-se dele da mesma forma que o corpo tradicional procura defender-se do 'contagio' pentecostal...

Entretanto se temos diante de nós que lá no fundo ou nas bases está uma massa de senhoras analfabetas como acreditar que a TP deixara de crescer a curto prazo. Por outro lado se a TP cresce - e aqui marco minha posição - estamos diante de um problema terrivel na medida em que diz respeito a conduta de Cristãos e a figura de Cristo.

Portanto a existência, as causas e o crescimento da TP é algo que diz respeito a todos os Cristãos e a própria sociedade tendo em vista suas implicações temporais.

Tenho de mim para mim que a TP constitui atualmente o tema mais importante ou um dos temas mais importantes no que diz respeito a vida Cristã pois o influxo que tem exercido sobre as ações humanas e as reações que produzido são de tal natureza que atingem toda instituição Cristã.

Para tanto direi que quando voce se apresenta como Cristão a um grupo de estanhos, houve quase sempre piadinhas como estas: quanto paga de dizimo ao pastor para entrar no céu... e outras quejandas. Não cuido que Cristo seja honrado em tais circunstâncias ou que tais ocorrências não digam respeito a sua causa.

É evidentem que nossas igrejas seja a ortodoxa, a romana ou a anglicana são culpadas também na medida em que deixam de denunciar ou cooperam com um sistema econômico que gerando miséria, alimenta tudo isto. Folgo no entando que também floresça nestes tres campos algo chamado teologia da libertação e uma relativamente forte militancia esquerdista bastante definida.

Não foi por acaso que em diversos paises romanos ou ortodoxos se desenvolveram modelos socialistas, os quais em que pesem seus defeitos, possuem o mérito imorredouro de se tentar mudar alguma coisa num contexto em que muitos decretaram já o fim da História. E ao tentar mudar as coisas tais pessoas retomaram - talvez se consciência, mas retomaram - a proposta do Cristianismo nascente: transformar não pessoas mas as relações entre as pessoas produzindo um novo ethos social diferente de tudo quanto havia sido imaginado no contexto pagão.

Nossas igrejas são culpadas sim, são culpadas de não terem realizado o Cristianismo, de não lho terem concretizado, de não lho terem estabelecido como Cristo ordenou... Nosso povo, após o século de Justianiano deixou de ser fermento para a massa e sal para a terra, entretanto não vejo no que o pentecostalismo tenha alterado esta situação, crendo mesmo que lha fortaleceu não porque fabricou mais miséria, mas porque disfarçou por completo as causas dessa miséria e não cumpriu o grave dever de informar e esclarecer as massas.

É verdade que em algumas de nossas igrejas os pobres são mal vistos ou discriminados, não é mentira, nem calúnia. Vai longe os tempos em que o ideal franciscano eletrizava aos filhos de Deus... contaminou-se e prostitui-se a mãe igreja com a vã ideologia deste mundo,

Apostatou a igreja de sua tradição moral presente nos sermões de nossos doutores e padres mancumunando-se com os reis e poderosos servidores e Mamon. Isto também é verdade.

Penso todavia que seja possivel reforma-la moralmente com base na mesma tradição. Desejo soprar a brasa quase morta para que se converta num incendio e consuma as estruturas injustas deste século.

São nossas igrejas igrejas de colônia?

Sim, são e ocorre-me ter lido a seguinte explicação:

Pertencentes a um mundo dominado pelo Islan nossas igrejas foram proibidas de exercerem qualquer tipo de proselitismo limitando-se a sobreviver as vezes até na esfera da ilegalidade.
Como suas atividades eram supervisionadas - espiadas - pelo crescente tendo em vista puni-las caso violassem os decretos vigentes, a pura e simples presença de estranhos em seus cultos tornou-se motivo de apreenção, situação esta que prolongou-se por séculos a fio, tornando o povo ortodoxo casmurro e arredio.

Há pois explicações culturais e sociais para tais posturas, o que sem embargo não lhas torna dignas ou aceitaveis. Somente o esforço das gerações futuras será capaz de alterar este quadro.

Cumpre fazer ainda duas observações:

Ninguem jamais foi proibido de entrar numa de nossas igrejas ou insultado por ter ousado entrar nelas.

Algunas até como a russa, a grega e a copta são mais abertas ou amistosas sem no entanto perderem algo daquele travo que sente o Cristianismo ortodoxo radicado no Brasi.

Jamais separamos brancos de negros levando o racismo para dentro do recinto sagrado e contaminando nossa religião com essa monstruosidade. Prova disto é que os abissinios sempre fizeram parte de nossa grande familia ortodoxa, bem como os malabares do Sul da Índia.

Não é menos verdade que no seio do pentecostalismo emergente nos EEUU ocorreram querelas de teor racista que lho cindiram em grupos diferentes, e aqui cabe uma pergunta aos que creem que tais carismas e dons procedem de fato do Espírito Santo.

Se assim o é porque o Espírito da Santidade não logrou operar um milagre a manter-se incolume com relação ao racismo prevalecente nos EEUU. Não seria este milagre muito mais belo que a ressurreição de um morto?

Sebemos entretanto que eles não se mantiveram unidos.


continua.

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