Calvinismo, o que pensar sobre ele? Que posição tomar?

Polêmicas há que não são nenhum pouco saudaveis porque dizem respeito a teorias teologicas situadas no terreno da liberdade.

Nas questões essenciais acordo e submissão - dizia o bemaventurado Agostinho - nas não essenciais liberdade.

Por não essencial compreende-se as adiaforas ou teologumenas, como: preexistência de almas, pluralidade de mundos, cárater dos anjos, reencarnação, emanação e absorção, inferno, restauração geral, etc

De fato não convem disputar sobre elas enquanto não pertencem aos elementos constituitivos da divina revelação.

Por outro lado se se faz mister disputar que seja amigavelmente, sem insultos e anatemas.

Que as discusões em torno de tais postulados seja sobria e respeitosa para ser edificante e não destrutiva.

Pois no passado tais discusões saturaram as almas e chegaram ao escandalo.

Por consequência dos excessos controversiais sucedidos no passado - ja em torno das adiaoforas, já em torno dos artigos de fé -chegamos nestes nossos dias ao extremo oposto que é o de fugir a toda e qualquer controvérsia religiosa e de assumir uma postura relativista...

Evidentemente que a controvérsia não pode mais ser encarada como o centro ou a medula da religião Cristã segundo criam os teologos do século XVI, entretanto também não podemos aderir ao posição contrária segundo a qual o tempo das controvérsias se acabou para sempre.

Nem fazemos da controvérsia a base de nossa vida espiritual nem fugimos dela como se foge dum leproso ou dum contaminado, antes encara-mo-la com naturalidade dentro do seu espaço...

Da mesma forma que o glutão tendo comindo demais, abusado dos temperos e sofrido indigestão diz não querer ver mais comida diante de sí, a Cristandade intoxicada por controvérsias truculentas e inglórias alega não querer mais polemizar e discutir...

Entretanto se o nosso glutão deixar de ingerir alimentos morrerá de fome...

E a Cristandade?

Morrerá de fome espiritual...

Ou se converterá numa avestruz sincrética...

Enfrentemos pois o problema de frente sem aumentar o número dos mistérios divinos...

Não afirmamos com os semi-gnosticos (Rosmini, Gunther, etc ) que não há mistérios e tampouco com os fundamentalistas Tudo é mistério, antes dizemos, há mistérios, há alguns mistérios irredutiveis a analise racional no corpo do símbolo de fé...

Três cremos, são os mistérios divinos e inesgotaveis que veneramos: o mistério de como três consciências fruem duma só natureza divina sem partição ou fragmentação...

O mistério de como uma destas consciência sem separar-se das demais se fez carne.

E por fim como essa mesma natureza divina hoje se encarna no pão sobre nossos altares.

O primeiro é o grande mistério da Santa e indivisivel Trindade, fundamento e base dos demais mistérios.

Os outros dois são como que um só, pois dizem respeito a Encarnação da segunda pessoa dessa Trindade Bendita...

Pois a S Eucaristia nada mais é do que uma nova ou segunda encarnação do Senhor, uma encarnação nos elementos do pão e do vinho.

http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=6340385&tid=5322437874056035427&start=1


Então poderiamos reduzir o espaço do mistério no contexto Cristão a Trindade divina e a Encarnação do Logos, mistérios intimamente relacionados por sinal.

A Cristandade porém, guiada por homens vaidosos, pretende multiplicar ao infinito os mistérios e ve-los onde não existem.

Refiro-me especialmente a liberdade humana, a graça, a fé e a salvação.

Correntes há que fazem de cada um destes assuntos um mistério impenetravel...

Somos a favor dos mistérios divinos com que nos deparamos já na escritura Santa e canonica do Novo Testamento, já na tradição dos ilustres apóstolos, mas totalmente infensos a novos mistérios engendrados por teologos cheios de si mesmos...

Mistérios humanos e artificiais não lhos recebemos.

Por isso não aceitamos a teoria do bemaventurado Agostinho sobre a graça, porque sua aceitação exige a introdução de um grande número de mistérios desnecessarios na profissão de fé...

Não cremos na teoria maniquéia da corrupção total da natureza humana e na anulação da razão e da vontande pelo pecado, conforme escreverm nossos hierarcas ao papa romano:

"Caído pela transgressão, o homem não se como as criaturas irracionais. Ele tornou-se escurecido e foi privado de perfeição e de paixão, mas não foi privado da natureza e do poder que recebeu do boníssimo Deus. Pois se fosse privado assim, teria se tornado irracional, e não mais um homem. Mas ele preservou aquela natureza, de modo a, de acordo com a natureza, poder escolher e fazer o bem e fugir e afastar-se do mal" parag XIV

Esta é a doutrina ortodoxa pura e imaculada sustentada pelos monges de Adrumeto em face aos exageros do bemaventurado Agostinho e pelos monges de Lerins em face aos delírios dos agostinianistas congregados em Orange... por S Vicente, S Arnobio, S Cassiano, S Genádio, S Fausto, etc campeões da liberdade e da cooperação humanas, doutrinas expressamente ensinadas pelo Senhor e por todos os apostolos na Escritura divina e inspirada.

Agora vejamos até onde nos conduzem as premissas gracistas sustentadas pelo Mestre Hiponense:

Se o homem não é livre para abraçar o Cristianismo é a graça de Deus que o faz abraça-lo e salvar-se.

Portanto é Deus quem envia sua graça a uns e regeita a outros.

É pois autor tanto da salvação quanto da condenação.

Pois quem podendo salvar não salva, perde.

Entretanto Deus castiga com punições eternas aqueles que ele mesmo não deseja converter.

Sendo Deus um ser imutavel é provavel que este estado de coisas reflita a eternidade.

Devemos pois concluir que desde toda a eternidade Deus escolheu uns e regeitou outros fazendo acepção de pessoas.

Desejando salvar apenas alguns e não a todos percebemos que não é pródigo, nem magnanimo, mas mesquinho.

Recusando-se a dar uma chance sequer aqueles que reprova mostra-se cruel.

Negando-se a perdoar tantos quantos possam deseja-lo é despojado de sua misericórdia.

Se sabia que os homens pecariam ou que não se converteriam porque criou-os? Porque criar uma criação defeituosa?

Se renegou sua graça a Adão para que caisse então é o autor do mal e do pecado...

Se concedeu a graça forte a Adão porque ele pecou?



Tais foram as conclusões a que chegou primeiro Goteschalk, entretanto os ortodoxos Jonas de Orleans e Hincmar de Reins lho anatematizaram e puzeram fora da comunhão.

Posteriormente foram retomadas e desenvolvidas com logica e argucia pelo teologo frances João Calvino, ditador de Genebra.

A tais decretos sobre o mal, o pecado, a predestinação e a condenação dos inocentes as chamas eternas Calvino teve o mérito de batizar como 'decreto horrivel' ou seja tão horrivel quanto seu deus, calcado não naquela imagem de Pai generoso revelada pelo Logos, mas na falsa idéia de beduino ou xeque celestial concebida pelos bárbaros e selvagens hebreus...

Posteriormente os ímpios reunidos em Dordt condenaram a sã doutrina de Jacob Arminius, homem piedoso e sábio que procurava reintegrar a noção de liberdade e cooperação ao protestantismo. Os arminianos foram ferosmente perseguidos pela inquisição calvinista e tiveram de passar a Inglaterra onde felismente sua pregação encontrou eco no bondoso coração de J Wesley.

Entrementes o Dr Turretini registrou em seu 'Institutio Theologiae elencticae' que após a 'definição' de Dordt a predestinação se converterá em dogma de fé para todos os reformados.

Watfield classificou essa teoria repugnante como sendo o 'pão dos filhos' e Wesley muito teve de sofrer nas mãos dos predestinados por vindicar não a liberdade dos homens, mas antes de tudo O CARATER SANTO DE DEUS E A PATERNIDADE UNIVERSAL DAQUELE QUE FOI REVELADO PELO VERBO BENDITO.

Evidentemente que se o pecado não procede do homem livre por um desvio de vontade com relação a vontade boa de Deus, de Deus procede e Deus torna-se o responsável por ele e, enfim, seu autor.

Entretanto a escritura afirma em diversas partes que o Deus Santo abonima o pecado... como pode se lhe atribuir pois a autoria do pecado?

Se Deus abomina o pecado ele só pode ter sua origem na liberdade dos seres humanos. Conclusão: os seres humanos são livres, logo perfeitamente capazes de aderirem por si mesmos ao Cristianismo sem necessidade de qualquer graça preparatoria além da igreja e da pregação.

Sustentam alguns dos calvinistas que de fato antes do pecado o homem era livre e que livremente pecou, mas que depois de pecar tornou-se escravo do mal e do pecado perdendo sua liberdade...

Entretanto essa tése de que a obra do Diabo ou do homem prevaleceu totalmente da obra divina destruindo-a por completo não encontra eco nas palavras de Jesus, o qual disse aos hebreus: quantas vezes eu quiz te reunir como a galinha reune os pintinhos debaixo de suas asas, MAS VÓS NÃO O QUIZESTES.

Ora se o homem não pudesse querer para o bem Jesus estaria zombando de seus ouvintes. Antes diria: não vos anunciei o Evangelho porque voces ja estão predestinados.

Por isso que alguns calvinistas do século XVI recusavam-se a anunciar o Evangelho do Reino, porquanto os predestinados duma forma ou de outra seriam atraidos até ele, ainda hoje a CCB sustem esta tese alegando que Cristo mesmo busca os que deseja converter e salvar e lhos conduz até seus cultos.

Muitos também vieram a regeitar o batismo porque caso fossem predestinados poderiam muito bem obter a salvação sem ele...

Por fim como diz a escritora adventista E G White: "Passaram a levar uma vida debochada... porque conforme diziam: eram os eleitos, ja não podeiam pecar, seus vicios eram virtudes pelo sangue de Cristo, estavam firmes na segurança do crente e predestinados desde toda a eternidade ao paraiso sem consideração de seus atos..."

Wesley que viveu nessa época alude a incestos, amor livre, orgias, etc praticados pelos 'antinominiastas' ou seja os inimigos da lei Cristã.

Como Wesley regeitava a teoria da predestinação como ímpia e condenava os desvios da canalha calvinista, Toplady e outros fanaticos escreveram inumeros panfletos sustetando a heresia predestinacionista... foram todos lidos e fulminados pela pena gloriosa de Fletcher de madley. Resta lamentar que os metodistas de hoje não valorizem o quanto deviam este livro todo de ouro, pérola de ortodoxia e jóia da literatura Cristã universal, mas que antes encarem o veneno calvinista com indiferença e neutralidade.

Uma doutrina que atinja em cheio o carater Santo daquele Pai revelado por Nosso Senhor Jesus Cristo jamais poderá ser indiferente ou neutra.

Ecoará no tempo e na eternidade como supremo insulto aos olhos de todo aquele que ama Jesus e que é cioso de sua glória.

Deve pois o Calvinismo ser denunciado como o que é: a mais pérfida de todas as heresias jamais urdidas pela Cristandade nominal, mil vezes pior que o sabatismo, um milhão de vezes pior que o arianismo... Dar combate sem treguas a essa abominavel manobra é um dever de todo cristão esclarecido pois como dizia J J Russeua:

"Ninguém é capaz de amar sinceramente a pessoas que cre estarem predestinadas ao inferno e condenadas."

O Calvinismo não é uma simples teoria indiferente a moral Cristã, mas a mais virulenta ameaça já feita a moral Cristã em suas bases mesmas ou seja a lei do amor universal.

Não pode o calvinistas amar a pecadores que deus não amou, não pode ser miseriocordioso para com aqueles que deus antecipadamente condenou, não pode ser generoso se seu deus é mesquinho e insensivel...

Se deus condenou milhões de inocentes ao fogo literal do inferno desde toda a eternidade e sem conceder-lhes a minima possibilidade de evitarem a esse trágico fim, o que é feio do amor, da misericordia, da compreenção, da generosidade, da clemencia, do perdão, da bondade, etc?

Tornam-se palavras vazias de significado.

As bemaventuranças são minimizadas ou ignoradas por completo e os anatemas e suplicios da lei antiga restabelecidos...

Genebra converte-se no primeiro campo de concentração espiritual da humanidade no dizer de Van Paasen e a humanidade numa camara de suplícios...

E nada resta do frescor do Evangelho...

Comentários

  1. Caro Domingos, concordo, com você em número, gênero e grau. Você escreveu com um estilo impecável e soube ser didático.
    Quanto ao luteranismo e ao calvinismo creio que nem podem e nem devem ser chamados de cristianismo, pelo simples fato de terem distorcido o ensino de Cristo e de seus apóstolos.
    Agostinho foi um grande bispo e uma pessoa bondosa, mas errou feio ao defender essa doutrina ímpia da predestinação.

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  2. Particularmente, sou favorável a visão arminiana, logo, favorável a visão do Professor Domingos. Entretanto, não considero o calvinismo como anti-cristão (conforme o comentário do Fernando), pois sustenta com o cristianismo histórico dogmas de grande importância para o cristianismo, como a Divindade de Cristo e a Santíssima Trindade. Além do que, o calvinismo, nem mesmo o luteranismo, não podem ser reduzidos à doutrina predestinacionista, a meu ver. Por outro, toda forma sistemática de se pensar terá a tendência de "harmonizar" o escrito bíblico ao seu próprio sistema, e termos como predestinação acabam sendo reduzidos, por assim dizer, à pré-ciência (quando sabemos, são termos diferentes). Também há inúmeros textos bíblicos no sentido de que "ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer", ou, "que o homem natural não pode discernir as coisas do Espírito", de modo que, mesmo arminianos admitem que a causa primeira da conversão é a graça de Deus, e, somente em um segundo momento, a vontade livre do homem, em rejeitar ou não esta graça. Além do que, não podemos substimar tanto a escola dos que seguiram Agostinho, visto que, há uma razoável quantidade de textos bíblicos (portanto, até onde entendo, fundamentais para a fé) que indicam alguma plausibilidade da questão predestinacionista, como por exemplo, Rm 9. 22: "Que diremos pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição..." Por isso, não subestimo esta escola de pensamento, não obstante discordar dela, e não desconhecer a exegese arminiana acerca de tais textos polêmicos; por isso, dei em outro texto, o benefício da dúvida no sentido de atribuir a uma espécie de paradoxo, ou mesmo mistério divino realmente a esta possibilidade em se harmonizar tanto a liberdade humana quanto a soberania divina. Além do que, toda a ênfase do texto se dava na cooperação divino humana na formação do caráter de Cristo no ser fiel, e não tinha a intenção de ser uma defesa (ou ataque) do predestinacionismo.
    Forte abraço.

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